Apresentou se
à minha visão espiritual um velho segurando uma cruz, em
pé na porta da senzala. De seus olhos derramavamse
lágrimas e não pude conter as
emoções que a visão provocou. Da cruz que o velho segurava irradiava intensa luz, e
suas lágrimas caíam na terra. A cada toque da lágrima no chão nascia um lírio,
pequeno, porém perfumado. Senti a intensidade da fragrância e ouvi o ancião entoar
a melodia que ainda hoje trago impressa na memória.
Mais tarde, Pai João me falou que, com a visão, ele queria evocar o
sofrimento do cativeiro e deixar uma mensagem registrada em minha alma. Segundo
ele, a cruz simbolizava o sofrimento cotidiano que ainda é a forma de ascensão no
planeta Terra. O canto representava a necessidade de elevação da alma, uma forma
de transformar o chicote do feitor em instrumento de elevação espiritual. Nos braços
da cruz, ele prestava o juramento de permanecer fiel à sua fé e a si mesmo. Não
corromperia sua alma, mesmo diante da dor. Pai João abandonou seu corpo físico
elevandose
pelo trabalho e redimindose
com o sofrimento e o aprendizado dele
decorrente. Compreendeu as razões da vida sem entregarse
à autocomiseração,
aceitando tudo com resignação, sem perder a dignidade.
Uma letra simples, uma melodia que evoca saudades. Eis o que João Cobú
me ensinou, cantando sua dor e falando de Deus. Do Deus que cura, que liberta, que
educa e que tem autoridade suficiente para transmutar nossas experiências em
ferramentas de elevação e nossas dores, em alegrias permanentes.
Robson Pinheiro (pelo Espírito Pai João de Aruanda)
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